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Insuficiência renal crônica dá direito ao BPC?

Atualizado em 8 de dezembro de 2025
7 min de leitura
Assistência social auxiliando paciente renal crônico com BPC Loas.

Apoio no acesso ao BPC Loas para pacientes renais.

Insuficiência renal crônica dá direito ao BPC?

Uma dúvida comum entre pessoas com problemas renais é se a insuficiência renal crônica dá direito ao BPC (Benefício de Prestação Continuada). A resposta é que sim, pode dar direito ao benefício, especialmente quando a doença está em estágios avançados e requer hemodiálise ou causa limitações graves e permanentes. No entanto, o simples diagnóstico de insuficiência renal não garante o benefício. É necessário comprovar que a condição resulta em incapacidade funcional severa, que a renda familiar per capita é inferior a R$ 379,50 (1/4 do salário mínimo), e passar por avaliação médica e social do INSS.

A insuficiência renal crônica (IRC) é uma condição médica caracterizada pela perda progressiva e irreversível da função dos rins. Em estágios avançados, a pessoa pode precisar de tratamento dialítico (hemodiálise ou diálise peritoneal) ou transplante renal. O tratamento dialítico é extremamente limitante, exigindo sessões regulares (geralmente 3 vezes por semana, 4 horas cada), causando fadiga intensa e impondo severas restrições alimentares e hídricas. O que determina a elegibilidade para o BPC não é apenas o diagnóstico, mas o grau de comprometimento funcional causado pela doença.

Quando a insuficiência renal crônica pode gerar direito ao BPC

A insuficiência renal crônica pode gerar direito ao BPC quando apresenta as seguintes características:

  • Insuficiência renal crônica estágio 4 ou 5: TFG (Taxa de Filtração Glomerular) < 30 ml/min, com limitações funcionais severas
  • Necessidade de hemodiálise ou diálise peritoneal: Tratamento dialítico regular que impede atividades laborais normais
  • Fadiga crônica intensa: Cansaço extremo que limita atividades básicas, comum em pacientes dialíticos
  • Anemia severa: Níveis baixos de hemoglobina causando fraqueza e limitações
  • Complicações da doença renal: Hipertensão não controlada, problemas cardiovasculares, neuropatia urêmica
  • Limitação funcional severa: Dificuldade grave para trabalhar, manter rotina, realizar higiene pessoal devido à fadiga e sessões de diálise
  • Impedimentos de longo prazo: Condição que persiste por pelo menos 2 anos ou é considerada irreversível (a menos que faça transplante)
  • Restrições severas: Alimentação restrita, ingestão hídrica limitada, dependência de máquina de diálise

O Decreto nº 6.214/2007, que regulamenta o BPC, estabelece que a deficiência deve ser avaliada considerando os impedimentos nas funções e estruturas do corpo, limitações de atividades e restrições de participação social. No caso da insuficiência renal crônica, a avaliação médica analisará:

  • Exames de função renal (creatinina, ureia, TFG - Taxa de Filtração Glomerular)
  • Histórico de tratamento dialítico (frequência, duração, tipo de diálise)
  • Exames que mostram complicações (anemia, hiperparatireoidismo, osteodistrofia renal)
  • Avaliação de comorbidades (diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares)
  • Impacto do tratamento nas atividades diárias e capacidade de trabalho
  • Restrições alimentares e hídricas impostas pela doença
  • Presença de fístula arteriovenosa (acesso vascular para hemodiálise)

Critérios de deficiência para o BPC

Para ter direito ao BPC, a pessoa com insuficiência renal crônica precisa comprovar que a doença resulta em deficiência nos termos da Lei nº 8.742/1993 (LOAS). A lei define deficiência como:

"Impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir a participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas."

Avaliação biopsicossocial

A avaliação para concessão do BPC considera três dimensões:

  • 1.
    Deficiência (aspecto biológico): Diagnóstico médico de insuficiência renal crônica, com exames que comprovem o estágio da doença (TFG, creatinina, ureia) e necessidade de diálise
  • 2.
    Funcionalidade (aspecto funcional): Limitações para trabalhar (incompatibilidade entre jornada laboral e sessões de diálise), fadiga intensa, restrições alimentares severas, dependência de tratamento dialítico
  • 3.
    Fatores ambientais e pessoais: Acesso a centro de diálise, transporte para tratamento, condições de moradia, suporte familiar, barreiras para participação social

⚠️ Importante: A insuficiência renal crônica em estágios iniciais (estágio 1 ou 2), controlada apenas com medicação e sem necessidade de diálise, geralmente não é considerada deficiência para fins do BPC. O benefício é destinado a casos graves (estágios 4 e 5) que causam impedimentos severos e de longo prazo, especialmente quando há necessidade de tratamento dialítico.

Critério de renda familiar

Além da comprovação da deficiência, é necessário atender ao critério econômico. A renda familiar per capita deve ser inferior ou igual a R$ 379,50 (1/4 do salário mínimo de R$ 1.518).

Como calcular a renda familiar per capita

  • 1.
    Some todas as rendas da família (salários, pensões, aposentadorias, aluguéis)
  • 2.
    Conte quantas pessoas vivem na mesma casa
  • 3.
    Divida o valor total pelo número de pessoas

📌 Exemplo prático:

Família com 3 pessoas e renda total de R$ 1.100,00:

R$ 1.100,00 ÷ 3 = R$ 366,67 per capita

✅ Neste caso, a família atende ao critério de renda (R$ 366,67 < R$ 379,50)

O que não conta como renda

  • Benefícios assistenciais (BPC) já recebidos por outros membros da família
  • Programas sociais como Bolsa Família
  • Pensão especial de natureza indenizatória
  • Renda de programa de aprendizagem profissional
  • Benefícios e auxílios temporários

💡 Observação sobre despesas médicas:

Embora o critério legal seja de 1/4 do salário mínimo, em alguns casos judiciais, despesas médicas elevadas com tratamento dialítico (transporte para sessões, medicações, dieta especial) podem ser consideradas para flexibilizar o critério de renda. Consulte um advogado especializado se sua renda ultrapassar o limite mas houver gastos significativos com tratamento.

Documentos necessários

Para solicitar o BPC com diagnóstico de insuficiência renal crônica, você precisará reunir:

Documentos pessoais

  • RG e CPF
  • Certidão de nascimento ou casamento
  • Comprovante de residência atualizado
  • Número do NIS (Número de Identificação Social)
  • Inscrição no CadÚnico (Cadastro Único)

Documentos médicos (essenciais)

  • Laudos médicos detalhados: Descrevendo o diagnóstico de insuficiência renal crônica, estágio da doença, sintomas e limitações funcionais (preferencialmente de nefrologista)
  • Exames de função renal: Creatinina, ureia, TFG (Taxa de Filtração Glomerular) mostrando o grau de comprometimento renal
  • Exames de imagem: Ultrassom renal mostrando atrofia ou alterações nos rins
  • Comprovante de tratamento dialítico: Documento da clínica de hemodiálise atestando frequência e duração das sessões (se aplicável)
  • Exames de complicações: Hemograma (anemia), PTH (hiperparatireoidismo), cálcio, fósforo, potássio
  • Histórico de tratamento: Medicações em uso (quelantes de fósforo, eritropoietina, anti-hipertensivos), resposta ao tratamento
  • Documentação de comorbidades: Laudos e exames de diabetes, hipertensão ou outras condições relacionadas

Documentos de renda familiar

  • Contracheques ou declaração de renda de todos os membros da família
  • Extrato de aposentadoria ou pensão (se houver)
  • Declaração de não possui renda (para quem não trabalha)
  • Comprovantes de despesas médicas (opcional, mas pode ajudar)

💡 Dica importante:

Quanto mais completa a documentação médica, maiores as chances de aprovação. Solicite ao nefrologista que seja específico sobre as limitações funcionais causadas pela insuficiência renal e pelo tratamento dialítico, como fadiga extrema, incompatibilidade com jornada de trabalho, restrições alimentares severas, etc. O comprovante da clínica de diálise é fundamental.

Como solicitar o BPC com insuficiência renal crônica

O processo de solicitação do BPC pode ser feito de forma gratuita através dos seguintes canais:

1. Pelo aplicativo ou site Meu INSS

  • 1.
    Acesse meu.inss.gov.br ou baixe o app
  • 2.
    Faça login com sua conta gov.br
  • 3.
    Clique em "Novo Pedido"
  • 4.
    Busque por "Benefício Assistencial à Pessoa com Deficiência"
  • 5.
    Preencha o formulário e anexe os documentos
  • 6.
    Agende a avaliação médica e social

2. Pelo telefone 135

Ligue para a Central 135 do INSS (funcionamento de segunda a sábado, das 7h às 22h) e solicite o agendamento com um atendente.

3. Em uma agência do INSS

Compareça pessoalmente a uma agência do INSS. É recomendado agendar previamente pelo Meu INSS ou pelo 135.

Etapas após o pedido

  • 1.
    Avaliação médica (perícia): Um perito médico do INSS avaliará seus exames e laudos, além de realizar exame físico para verificar as limitações funcionais causadas pela insuficiência renal e tratamento dialítico.
  • 2.
    Avaliação social: Um assistente social visitará sua residência ou realizará entrevista para avaliar as condições socioeconômicas e o impacto da deficiência no seu dia a dia.
  • 3.
    Análise do pedido: Após a realização da perícia e avaliação social, o INSS analisará todas as informações e decidirá sobre a concessão do benefício. Conforme decisão do STF (Tema 1066), o prazo máximo para conclusão é de até 90 dias a partir da realização dessas avaliações.
  • 4.
    Resultado: Você será notificado sobre a aprovação ou negação do BPC. Em caso de aprovação, o pagamento será processado pelo INSS.

⚠️ BPC negado?

Se seu pedido for negado, você tem direito a recorrer. O recurso deve ser apresentado em até 30 dias após a notificação. Você pode fazer o recurso pelo Meu INSS ou buscar orientação no CRAS ou com um advogado especializado. Muitos casos de insuficiência renal crônica com diálise são aprovados em recurso ou via judicial.

Para mais detalhes sobre como solicitar o BPC, consulte nosso guia completo passo a passo.

💬 Tem dúvidas se você se encaixa nos requisitos?

Nosso canal está aberto para esclarecer suas dúvidas sobre este benefício.

❓ Perguntas Frequentes

Quem faz hemodiálise tem direito ao BPC automaticamente?

Não é automático, mas a necessidade de hemodiálise é um forte indicativo de insuficiência renal crônica grave (estágio 5), o que aumenta significativamente as chances de aprovação do BPC. A hemodiálise causa limitações importantes, como fadiga extrema, necessidade de sessões regulares (geralmente 3x por semana, 4h cada), restrições alimentares severas e limitações para trabalhar. Ainda assim, é necessário passar pela avaliação médica e social do INSS e atender ao critério de renda familiar.

Qual o estágio da insuficiência renal para ter direito ao BPC?

Não há um estágio mínimo estabelecido por lei. Geralmente, insuficiência renal crônica estágio 4 (TFG 15-29 ml/min) ou estágio 5 (TFG < 15 ml/min ou em diálise) têm mais chances de aprovação, pois causam limitações funcionais graves. No entanto, o que determina o direito é a avaliação biopsicossocial que considera o impacto da doença na vida da pessoa, não apenas o estágio técnico.

Quem está na fila de transplante renal tem direito ao BPC?

Estar na fila de transplante renal não garante automaticamente o BPC, mas indica doença renal em estágio terminal (estágio 5). Se a pessoa está na fila de transplante e precisa de diálise, com limitações graves para trabalhar e renda familiar baixa, pode ter direito ao benefício. É importante comprovar as limitações funcionais causadas pela doença e pelo tratamento dialítico.

Posso trabalhar e receber BPC por insuficiência renal?

Em regra, não é possível trabalhar e receber BPC simultaneamente. Se você começar a trabalhar, o BPC será suspenso (não cancelado), com possibilidade de restabelecimento após o término do vínculo, desde que os requisitos continuem sendo atendidos. Há exceções: contratos de aprendizagem por até 2 anos permitem o recebimento concomitante, conforme art. 21-A da LOAS.

Quanto tempo demora para sair o resultado do BPC?

Após fazer o pedido, você será chamado para realizar a perícia médica e a avaliação social. Conforme decisão do STF (Tema 1066), o INSS tem até 90 dias para concluir o processo de BPC a partir da realização dessas avaliações. Na prática, o tempo total (desde o pedido até a resposta final) pode variar dependendo da demanda da agência. Após a aprovação, o pagamento é processado, mas não há prazo legal específico garantido para o primeiro pagamento do BPC.

Se fizer transplante renal, o BPC é cancelado?

Não necessariamente. O transplante renal bem-sucedido pode melhorar significativamente a qualidade de vida, mas não significa cura imediata. Haverá revisão do benefício para verificar se as limitações funcionais persistem. Se após o transplante a pessoa recuperar a capacidade de trabalhar e as limitações diminuírem, o BPC pode ser cancelado. Se permanecerem limitações importantes (rejeição, complicações, necessidade de medicação imunossupressora com efeitos limitantes), o benefício pode continuar.

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📚 Fontes Oficiais e Referencias Legais

Este artigo foi baseado exclusivamente em fontes oficiais do governo brasileiro. Confira abaixo as referências utilizadas para garantir a veracidade das informações.

Importante: Sempre consulte as fontes oficiais mais recentes, pois as normas podem ser atualizadas. Este conteúdo tem caráter educativo e não substitui orientação jurídica especializada.

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