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Discriminação em Voo: Quando Cabe Processo Por Dano Moral

Atualizado em 30 de outubro de 2025
12 min de leitura
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Terminal aeroportuário moderno: direitos dos passageiros garantidos

Sim, você pode processar a companhia aérea por dano moral se sofreu discriminação durante o voo ou no aeroporto. A jurisprudência brasileira reconhece que atos discriminatórios — seja por raça, cor, gênero, obesidade, deficiência, orientação sexual, vestuário ou aparência — configuram violação à dignidade humana e geram direito à indenização pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC). Os valores variam de R$ 15 mil a R$ 50 mil ou mais dependendo da gravidade, e a prova pode ser feita por testemunhas, áudios, vídeos ou registro de ocorrência.

⚠️ Importante: Âmbito Criminal

Além do direito à indenização civil (foco deste artigo), algumas formas de discriminação configuram crime previsto na Lei 7.716/89. Você pode registrar Boletim de Ocorrência na delegacia do aeroporto ou delegacia comum. A esfera criminal é independente da cível — você pode buscar ambas: punição criminal do agressor E indenização da companhia aérea.

Casos de discriminação em voos têm crescido no Brasil, e o Judiciário tem aplicado indenizações mais elevadas quando há humilhação pública, constrangimento moral ou tratamento vexatório documentado.

✅ Sim, Você Pode Processar

A resposta é SIM. A Constituição Federal (art. 5º) garante a dignidade humana e proíbe qualquer forma de discriminação. Quando uma companhia aérea, seus funcionários ou outros passageiros (com omissão da empresa) praticam atos discriminatórios, você tem direito a indenização por dano moral.

A empresa é responsável civilmente pelos atos de seus prepostos (funcionários) e também por omissão caso não impeça ou não tome providências contra discriminação praticada por terceiros a bordo.

⚖️ Base Legal

  • Constituição Federal, art. 5º — dignidade e igualdade
  • Código de Defesa do Consumidor (CDC) — responsabilidade da empresa e reparação de danos morais em relações de consumo
  • Lei 7.716/89 — crimes de preconceito e discriminação (âmbito criminal)
  • STF e STJ — jurisprudência consolidada aplicando CDC em transporte aéreo para dano moral, afastando tarifação das Convenções de Varsóvia/Montreal

🔍 Tipos de Discriminação Reconhecidos

A jurisprudência brasileira tem reconhecido indenização por dano moral em diversos tipos de discriminação durante voos:

1. Discriminação Racial

Comentários racistas, abordagem policial seletiva, pedidos de troca de assento por outros passageiros alegando desconforto com passageiro negro, ou tratamento diferenciado por cor da pele.

Casos reais: Valores entre R$ 20 mil e R$ 50 mil quando comprovado tratamento humilhante.

2. Discriminação por Obesidade

Exigência de compra de assento adicional de forma constrangedora, comentários sobre peso do passageiro, recusa de embarque sem justificativa técnica clara, ou tratamento vexatório público.

Casos reais: Valores entre R$ 15 mil e R$ 30 mil quando há humilhação pública.

3. Discriminação por Deficiência

Recusa de assistência obrigatória, comentários sobre a deficiência, tratamento infantilizado, ou exigência de acompanhante sem justificativa médica.

Casos reais: Valores entre R$ 20 mil e R$ 40 mil, agravados se houver violação de direitos específicos da pessoa com deficiência.

4. Discriminação por Vestuário ou Aparência

Proibição de embarque por uso de roupas consideradas “inadequadas” sem base em regulamento claro, comentários sobre tatuagens, piercings, ou estilo pessoal.

Casos reais: Valores entre R$ 10 mil e R$ 25 mil.

5. Discriminação por Gênero ou Orientação Sexual

Tratamento diferenciado entre homens e mulheres, comentários homofóbicos, ou proibição de demonstração de afeto entre casais do mesmo gênero.

Casos reais: Valores entre R$ 15 mil e R$ 40 mil.

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📸 Como Documentar o Caso

A documentação é ESSENCIAL para comprovar a discriminação. Quanto mais provas, maior a chance de sucesso no processo.

1. Testemunhas

  • Anote nome completo, telefone e e-mail de passageiros que presenciaram
  • Peça para testemunhas gravarem depoimento em vídeo imediatamente após o fato
  • Testemunhas de terceiros (não envolvidos) têm mais credibilidade

2. Áudio e Vídeo

O que gravar:

  • Grave discretamente o momento da discriminação (permitido para prova em processo)
  • Grave sua reclamação ao supervisor ou comissário
  • Fotografe a cena, funcionários envolvidos, e seu estado emocional

⚠️ Gravações São Provas Lícitas

Segundo o STJ, gravação ambiental realizada por um dos interlocutores (sem autorização judicial) é lícita como prova em processos civis e penais quando há interesse legítimo. Portanto, gravar interações com funcionários da companhia é permitido e pode ser usado no processo.

3. Registro de Ocorrência Imediato

No aeroporto ou avião:

  • 1.
    Exija falar com supervisor imediatamente
  • 2.
    Peça para registrar reclamação formal por escrito
  • 3.
    Solicite cópia do registro ou protocolo
  • 4.
    Registre boletim de ocorrência na Delegacia do Aeroporto (se houver) ou na delegacia mais próxima

4. Mensagens e E-mails

Envie reclamação formal para a companhia aérea por e-mail e WhatsApp logo após o ocorrido, detalhando tudo. Guarde as respostas (ou a falta delas).

5. Exames Médicos ou Psicológicos

Se o evento causou ansiedade, crise de pânico, ou trauma, busque atendimento médico/psicológico imediatamente e guarde laudos e receitas.

💰 Valores de Indenização

Os valores de indenização por dano moral em casos de discriminação variam conforme a gravidade, circunstâncias e impacto na vítima. As faixas abaixo são ilustrativas baseadas em jurisprudência recente, mas cada caso é analisado individualmente pelo juiz:

GravidadeDescriçãoFaixas Observadas*
LeveComentário isolado, sem testemunhas, sem humilhação públicaR$ 5 mil - R$ 10 mil
ModeradaTratamento constrangedor com testemunhas, comentários reiteradosR$ 10 mil - R$ 20 mil
GraveHumilhação pública, recusa de embarque, exposição vexatóriaR$ 20 mil - R$ 40 mil
GravíssimaAgressão física, trauma psicológico comprovado, repercussão midiáticaR$ 40 mil - R$ 100 mil+

* Valores baseados em decisões judiciais recentes. Não há tabela fixa; o juiz avalia caso a caso considerando as circunstâncias específicas.

Fatores que Aumentam o Valor

  • Humilhação pública (na frente de outros passageiros)
  • Reiteração do ato discriminatório
  • Postura arrogante ou omissão da empresa ao ser acionada
  • Trauma psicológico comprovado (laudos médicos)
  • Repercussão em redes sociais ou imprensa
  • Conduta reincidente da empresa (histórico de casos similares)

Fatores que Reduzem o Valor

  • Falta de provas robustas
  • Ato isolado de funcionário sem conhecimento da empresa
  • Retratação imediata e efetiva da empresa

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📋 Como Processar

1. Reúna Todas as Provas

Organize:

  • Bilhete aéreo e documentos do voo
  • Fotos, vídeos e áudios
  • Dados de testemunhas
  • Registro de ocorrência policial (se houver)
  • E-mails e mensagens trocadas com a empresa
  • Laudos médicos ou psicológicos

2. Tente Acordo Extrajudicial

Antes de processar, envie notificação extrajudicial à companhia aérea (de preferência via advogado), detalhando o ocorrido e exigindo indenização. Algumas empresas preferem acordo para evitar processo.

3. Escolha o Juizado Apropriado

Juizado Especial Cível (JEC)

  • Causas até R$ 40 mil
  • Não precisa de advogado (até R$ 20 mil)
  • Processo mais rápido (6-12 meses)
  • Sem custas judiciais iniciais

Justiça Comum Estadual

  • Causas acima de R$ 40 mil
  • Advogado obrigatório
  • Processo mais longo (1-3 anos)
  • Custas judiciais (podem ser requeridas isenção)

4. Prazo para Processar

5 anos a partir da data da discriminação (prazo de prescrição em relações de consumo contra companhias aéreas — CDC, art. 27). Esse prazo foi confirmado pelo STF em novembro de 2023, valendo inclusive para voos internacionais.

ℹ️ Reclamação na ANAC

A ANAC (Agência Nacional de Aviação Civil) aceita reclamações administrativas, mas não fixa ou autoriza indenizações individuais. Para obter reparação financeira (danos morais/materiais), o caminho é o Judiciário. Reclamações à ANAC são úteis para fiscalização e podem gerar multas à empresa, mas não resultam em indenização direta a você.

5. Durante o Processo

  • 1.
    Apresente todas as provas documentais
  • 2.
    Arrole testemunhas (2-3 testemunhas são suficientes)
  • 3.
    Solicite produção de provas (se necessário, perícia psicológica)
  • 4.
    Empresa será citada e terá que se defender

6. Resultado

Se a discriminação for comprovada, o juiz fixará valor de indenização. A empresa pode recorrer, mas geralmente é obrigada a depositar o valor para recorrer (depósito recursal).

✅ Dica Importante

Para mais detalhes sobre como processar empresas aéreas, consulte nosso guia completo de como processar companhia aérea.

A discriminação em voos é uma violação grave à dignidade humana e você tem direito a ser indenizado. A jurisprudência brasileira tem reconhecido valores significativos (R$ 15 mil a R$ 50 mil ou mais) quando comprovado o ato discriminatório. O segredo está na documentação: quanto mais provas você tiver (testemunhas, áudio, vídeo, registro de ocorrência), maiores as chances de sucesso. Não hesite em buscar seus direitos — processar a empresa não é apenas sobre o valor da indenização, mas também sobre coibir práticas discriminatórias e proteger outros passageiros.

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❓ Perguntas Frequentes

Posso processar mesmo sem ter filmado ou gravado o momento?

Sim. Embora áudio/vídeo sejam provas fortes, você pode provar com testemunhas, registro de ocorrência, e-mails, e seu próprio relato detalhado. O depoimento pessoal coerente tem valor probatório.

Quanto tempo demora um processo de discriminação?

No Juizado Especial, de 6 meses a 1,5 ano. Na Justiça Comum, de 1 a 3 anos. Processos com provas sólidas tendem a ser mais rápidos.

Preciso de advogado para processar?

Não se o valor for até R$ 20 mil no Juizado Especial. Acima disso, advogado é obrigatório. Recomenda-se advogado mesmo em causas menores para aumentar chances de sucesso.

A empresa pode me processar de volta por difamação?

Não, se você relatar fatos verdadeiros. Denunciar discriminação é exercício regular de direito. Apenas inventar fatos falsos pode gerar processo contra você.

Posso processar se a discriminação foi de outro passageiro?

Sim, se a empresa foi omissa. A companhia aérea tem dever de intervir e coibir atos discriminatórios a bordo. Se foi avisada e não fez nada, responde civilmente.

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📚 Fontes Oficiais e Referencias Legais

Este artigo foi baseado exclusivamente em fontes oficiais do governo brasileiro. Confira abaixo as referências utilizadas para garantir a veracidade das informações.

Importante: Sempre consulte as fontes oficiais mais recentes, pois as normas podem ser atualizadas. Este conteúdo tem caráter educativo e não substitui orientação jurídica especializada.

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